A terceira edição de 2025 da Retratos da Escola (volume 19, número 45) terá como tema Afrorrefenciar a Educação: negros currículos, negras didáticas, negros cotidianos sob organização de Patricia Baroni (UFRJ), Iris Verena (UNEB) e Allan Rodrigues (UERJ e UNESA).
Os interessados têm até o dia 15 de agosto para enviar artigos.
CLIQUI AQUI PARA ENVIAR SEU ARTIGO
A produção deste dossiê indaga sobre a possibilidade de produção do conhecimento na luta contra as desigualdades sociorraciais na Educação, vislumbrando a pluralização das referências nas diferentes pesquisas educacionais. Parte-se da emergência de uma geração de pesquisadores(as) negros(as) nas universidades brasileiras que enredam a militância política com a produção de saberes sobre a realidade étnico-racial, inscrevendo-se na luta antirracista e reivindicando a implementação de políticas afirmativas em universidades e órgãos do Estado.
Considera-se também que as pesquisas em Educação que chegam até os espaços educativos para discussão em ações de formação continuada docente, composição de projetos político-pedagógicos, centros de estudo, dentre outros, são predominantemente marcadas por produção científica não-negra e que tais produções são acionadas como mobilizadoras das práticas a serem implementadas nas escolas.
Os dados do Censo Escolar 2023 (INEP, 2023) informam que a maioria dos estudantes da Educação Básica são declarados pretos/pardos. Contudo, a categoria raça ainda aparece timidamente na produção de conhecimento das pesquisas no campo da Educação, o que permite inferir que o conhecimento científico no campo da educação que chega até as escolas pouco dialoga com a categoria racial da maioria de seus(suas) estudantes. Deste modo, frequentando uma escola que desconsidera ou considera de forma insuficiente as questões étnico-raciais, que tece práticas referenciadas em pesquisas que não abordam as muitas exclusões experimentadas cotidianamente pela maioria dos(as) estudantes que dela fazem parte, esses(as) jovens acabam por aprender, dentro do espaço onde deveriam aprender que as oportunidades educacionais são para todos e todas, que o direito à educação não é para eles(as).
Historicamente, pessoas negras sempre foram excluídas no acesso e permanência nos espaços educativos, sobretudo na educação superior, em razão de barreiras raciais expressas que impediam que esses sujeitos almejassem a carreira acadêmica até os anos 70 (Carvalho, 2005-2006). Nos anos 80, com o processo de democratização do país, o ingresso de estudantes e professores(as) negros(as) nas universidades passou a ser reivindicado pelos movimentos sociais negros. Nos anos 90 já era percebida de forma tímida a presença de pesquisadores negros(as) nas universidades (sobretudo públicas).
Sobre o dossiê
Portanto, ao propor o presente dossiê destaca-se a necessidade de cartografar a intelectualidade negra no campo da Educação brasileira no sentido de visualizar e pluralizar o conjunto que compõe o pensamento social antirracista mediante a produção de conhecimentos sistematizados que traduzem não apenas reflexões, mas formas de atuação capazes de reverter a situação dos afrodescendentes na sociedade brasileira marcada por uma lógica perversa de um sistema estratificado e estruturalmente racializado.
O dossiê Afrorreferenciar a Educação: negros currículos, negras didáticas, negros cotidianos assume como desafio a reivindicação pelo direito de visibilidade e circulação das produções que se dão a partir do ingresso desta “intelectualidade outra” enquanto produtora de ciência no campo da educação estabelecendo um espaço de tensão política e epistemológica. Vale destacar que Bento (2002, p.25) já nos alertava para a ideia de que no Brasil, o branqueamento é frequentemente considerado como um problema do negro que, descontente e desconfortável com sua condição de negro, procura identificar-se como branco, miscigenar-se com ele para diluir suas características raciais.
Tal consideração expressa uma ferramenta protetiva dos privilégios da brancura experienciada pela população branca brasileira tanto nas camadas populares, quanto pelos setores da classe média. Diante disso, enfrentamentos, medos e interesses se misturam e a branquitude se institui, compreendida enquanto a identidade racial do branco tecida nos contextos em que raça e poder se cruzam. Sobre isso, o que se pretende é reivindicar para o campo da educação afrorreferenciada é o direito ao conhecimento e o direito como produtora de conhecimento.
A relevância deste dossiê se inscreve na necessidade de dialogar sobre as questões referentes à produção intelectual negra e seu lugar no contexto da pesquisa em educação nos campos: Currículos, Didáticas e Cotidianos Escolares. Tal discussão, entretanto, não nasce no interior das instituições acadêmicas, mas tem origem no tensionamento social e racial da própria sociedade. A inserção de pessoas negras no campo da produção de conhecimento em educação, deslocando-as do lugar de objetos de estudo para o de sujeitos que possuem e produzem saberes, compõe a história das lutas pelo direito à Educação, bem como a luta pela superação do racismo.
Com a permissão do sentir e do conectar, o presente dossiê pretende acessar pesquisas que precisam ser visibilizadas. Nesse sentido, a revista Retratos da Escola tem a oportunidade de publicizar e divulgar um retrato negro da escola, reposicionando uma lente que possibilita a reflexão e o conhecimento de si, além de visibilizar os muitos e variados saberes da diversidade que se pretende difundir.
Aos(às) interessados(as) no Dossiê:
Os(as) autores(as) interessados/as em atender à chamada pública para o dossiê temático deverão submeter os artigos completos no sistema da revista até 15 de agosto de 2025, na seção Afrorreferenciar a Educação: negros currículos, negras didáticas, negros cotidianos.
Quando submetidos, os artigos completos deverão atender às diretrizes para autores/as, disponíveis na página da revista.
Cronograma da chamada para o Dossiê
15/08/2025 – data final para envio do artigo
16/08/2025 – 30/09/2025: apreciação dos artigos pelos pares
30/09/2025 – 05/12/2025: emissão da decisão editorial aos/às autores/as
01/10/2025 – 05/12/2025: revisão e editoração
Dezembro 2025: publicação da edição