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Celebrar Paulo Freire é um ato de resistência, afirmam artistas e trabalhadores/as da educação

Celebrar Paulo Freire é um ato de resistência, afirmam artistas e trabalhadores/as da educação

Neste domingo (18), no Ato Político e Cultural que comemora o centenário de Paulo Freire, realizado na Praia do Pina, em Recife (PE), diversos artistas e trabalhadores/as da educação foram unânimes em afirmar que celebrar o patrono da educação no momento que o país vive é um ato de resistência.

Isso porque o governo de Bolsonaro elegeu o pernambucano como inimigo e ainda foi um dos piores governos brasileiros no quesito educação. Desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff a educação tem sido atacada e abandonada. Só nos últimos 4 anos, foram quatro ministros da educação e o Ministério da Educação (MEC) foi alvo de investigação num suposto caso de corrupção, além da redução do orçamento, ameaças de privatização do sistema educacional e da ampliação das escolas militarizadas.

“O governo brasileiro não reconhece a importância de Paulo Freire, mas o mundo sim e é por isso que o mundo veio celebrar os centenário dele na terra onde ele nasceu. É um ato de força e de muita energia com todos os/as brasileiros/as e para todos/as educadores/as de toda América Latina e da Europa presentes no dia de hoje e isso mostra a importância e a dedicação que este homem tem para educação no mundo inteiro. Paulo Freire é um legado da humanidade”, afirmou o presidente em exercício da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Leão.

Paulo Freire, que morreu em 1997, foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político numa educação crítica e libertadora. Autor da pedagogia do oprimido, Paulo Freire defendia que a escola tinha como objetivo ensinar o aluno a “ler o mundo” para transformá-lo.

Cantores e artistas como Silvério Pessoa, Chico César, Lia de Itamaracá e Y Somos Todas (Costa Rica) também deixaram sua marca no palco do centenário e ressaltaram a resistência e importância em reviver o legado de Paulo Freire para mudar a rota do país e do mundo.

Para Chico César, celebrar Paulo Freire tornou-se de fato um ato de resistência depois destes anos sombrios que o Brasil vive, no qual a ciência, a cultura e a educação foram duramente atacadas e fez o país retroceder muitos anos. O cantor disse que é preciso defender o legado do patrono da educação para uma aprendizado com profundidade e criação de sujeitos críticos.

“É preciso resistir e dizer que Paulo Freire está vivo e está entre nós. É nosso compromisso levar adiante a sua obra, que tem uma visão muito importante para a liberdade e emancipação dos povos. Paulo Freire foi um homem simples, um homem do interior do Brasil e que conseguiu criar uma estrutura de pensamento que é usado como método de educação no mundo inteiro”, afirmou o artista que homenageia Paulo Freire em sua música “Beradêro”.

O artista Silvério Pessoa relatou que o patrono trouxe para a educação o sentimento de liberdade e esperança. O cantor também falou sobre a importância da educação dialógica entre professores e alunos, defendida por Freire, porque através do diálogo o professor deixa de ser apenas quem ensina e passa a aprender com os estudantes e a comunidade escolar.

“A pedagogia do oprimido continua atual e a educação que Paulo Freire defende é muito diferente do que ainda temos em grande parte do país, que é uma educação bancária e depositária. Nosso papel enquanto educador é usar a educação como ferramenta de transformação e que chegue para todos e todas”, explicou ele, que também é professor universitário.

O ato político-cultural começou com o grupo “Y Somos Todas”, da Costa Rica, com apoio do grupo brasileiro Bruta Flor, ainda com o céu azul e a praia lotada. Durante o show, trabalhadores e trabalhadoras da educação de diversos países falaram com o público presente e destacaram o reconhecimento internacional de Paulo Freire. Para encerrar o segundo dia de celebração do centenário do patrono da educação, Chico César agitou o público que estava na areia da Praia do Pina.

Convocada pela Internacional da Educação para América Latina (IEAL) e pela Rede Latino-Americana de Estudos sobre o Trabalho Docente (RED ESTRADO), a celebração do Centenário de Paulo Freire termina nesta terça-feira (20).

Um mundo melhor

Não é por acaso que se fala muito o verbo esperançar quando se pensa ou fala sobre Paulo Freire. O patrono da educação é lembrado por seu papel inspirador para a educação brasileira e mundo com seu método inclusivo e emancipatório.

O presidente da Associação Nacional de Política de Administração da Educação (Anpae), Romualdo Portela de Oliveira, disse que o ensinamento do patrono da educação brasileira é muito significativo porque é uma visão da educação emancipadora libertadora e trabalha na perspectiva da construção de uma nova sociedade. “É muito importante porque tem aquele sentido da esperança de construir um mundo novo. Celebrar Paulo Freire é pensar que o mundo pode ser melhor”, afirmou.

Para a secretária de combate ao racismo da CNTE, Iêda Leal, Paulo Freire significa vida, esperança e muita coragem de continuar acreditando na educação porque ele dá sentido para os/as educadores/as do mundo continuar a nossa luta.

“Celebrar Paulo Freire é viver intensamente e fazer dar sentido às nossas crianças e continuar acreditando que um outro mundo é possível. No momento que a gente vive, além de ser um ato de resistência, reviver o legado do patrono da educação é um ato de muita coragem e esperança e é isso que nós precisamos para continuar a luta”.

A coordenadora da Rede Latino-americana de Estudos sobre o Trabalho Docente (Rede Estrado) e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Eliza Ferreira, afirma que Paulo Freire é um símbolo muito forte, sobretudo porque ele representa a pedagogia da esperança.

“Ele representa a possibilidade que nós temos de, a partir de seus ensinamentos e sua prática, ter uma educação realmente transformadora, que seja libertadora e emancipadora, muito ao contrário do que vivemos nesses últimos anos. Celebrar Paulo Freire é acreditar que nós da educação brasileira vamos conseguir ter uma emancipação das nossas crianças, jovens e adultos”, sintetizou.

Ainda no domingo, pela manhã, aconteceu o segundo dia do Encontro da Rede de Mulheres Trabalhadoras em Educação da Internacional da Educação para a América Latina. As trabalhadoras da Educação da América Latina falaram sobre a situação das mulheres em seus países de origem e contaram um pouco sobre desafios e expectativas para ampliar e fortalecer o direito feminino.

Grande parte dos países da América Latina tem sofrido com golpes, atos antidemocráticos, retirada de direitos e avanço do neoliberalismo e isso impacta de imediato a vida das mulheres. Como dizia Simone de Beauvoir, “basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados”.

Outro debate importante que aconteceu entre as mulheres foi a importância da participação delas em cargos de poder no sindicato e na política.

“O machismo estruturante da sociedade é reproduzido no movimento sindical e na política e nós mulheres temos este papel de resistir e continuar lutando para que nada seja falado sobre nós sem nós. A participação das mulheres nestes espaços é fundamental para conseguirmos avançar não só nos direitos, que já é revolucionário, mas também para que todas nós possamos sair da invisibilidade e passarmos a ser protagonista da nossa história”, afirmou a secretária de Relações de Gênero da CNTE, Berenice D’Arc Jacinto.

Informações – CNTE

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